quarta-feira, 6 de junho de 2007

Extermínio dos nervos

Eu não vi o primeiro filme "Extermínio", mas posso garantir que a sua continuação "Extermínio 2" (28 weeks later) exaure os nossos nervos logo nos primeiros momentos de projeção. O jovem diretor desse thriller, o espanhol Juan Carlos Fresnadillo, não faz nenhuma concessão. É tensão do começo ao fim.
A história é mais ou menos assim, seis meses depois do final do primeiro filme, um grupo de pessoas está enclausurado numa casa de campo, tentando não ser infectado por pessoas que se transformaram em criaturas demoníacas, após terem sido infectadas por um vírus misterioso. Até que a personagem aí de cima, na janela, tenta salvar um garoto que bate a porta. Ao dar guarita ao menino, abre-se uma brecha e os seres endemoniados (infectados pelo tal do vírus), invadem a casa e.... aí não há mais trégua...

É curioso notar que a personagem (la ná janela) representa a figura materna no filme e é por meio dela que há a invasão do refúgio. Quase uma visão modernizada da Eva do Gênese. Só que num movimento inverso. Essa não é expulsa, mas macula o paraíso trazendo o inferno pra dentro dele.

A figura paterna também não sai ilesa. O filme confronta valores de lealdade, amor e desmistifica a figura do pai, do macho protetor. Não há heróis neste filme. Há atitudes heróicas, mas que logo se apagam ante a necessidade do "salve-se quem puder" diante de uma Londres ameaçadora, citiada, claustrofóbica e sem salvação.

O filme é uma produção inglesa. Traz Robert Carlyle num dos papéis principais, mas não o de mocinho. Aliás essa figura não existe na metáfora de mundo construído por Fresnadillo. O que fere os nossos sentidos viciados na visão do herói individual e redentor construído e incensado pelas produções americanas.
O diretor rouba-nos o suspiro que damos ao final desses filmes, onde geralmente apela-se ao ufanismo e ou as metáforas edificantes do bem vencendo o mal para voltarmos tranquilos as nossas casas. Não há isso. A tensão não termina, prossegue porque só terminaria com o exetermíno da humanidade. Uma visão superlativamente pessimista e apocalíptica do mundo atual, sem a esperança de um final feliz e redentor.
Quem assistiu a "Bruxa de Blair" talvez concorde comigo. Os roteiristas e o diretor citam, nas cenas mais tensas, aquele filme. A lente da câmara transforma o expectador em agente da ação, hora como um dos seres infectados, hora como vítima. O que só aumenta o suspense, a adrenalina, o batimento do coração e a angústia. Não é um bom filme pra se ver no final da noite. Mas não deve deixar de ser visto. Eu sofri, mas gostei.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Alexandre. A Ana me repassou o seu e-mail. Vim fuçar o seu blog. Bem vindo ao mundo blogueiro. Beijos.

Unknown disse...

Alexandre,
Gostei do texto. mantenha essa disposição para escrever que isso renova a cabeça da gente. Nada melhor do que passar as idéias para o papel para abrir espaço para outras coisas.
Sucesso no seu blog.

coisasqueeuvivendo disse...

Muito bem escrito e informativo.
Ja coloquei nos favoritos, volto sempre.
Abs
Liandro