quinta-feira, 28 de junho de 2007

Meu amigo está errado!

Caminhava eu e um amigo, então recém conhecido, pelas areias santistas...
Falávamos da vida e ele contava-me suas histórias amorosas, interessantes, inusitadas, assombrosas.

O som da voz do meu amigo e a expressão do seu olhar, escondida atrás dos óculos escuros, falavam de encontros e sensações revolucionários e tão conhecidas e vividas por mim mesmo.A água do mar lavava nossos pés, enquanto os meus pensamentos divagava sobre as minhas próprias histórias.

O amigo contou-me que uma das suas aventuras amorosas disse que estava apaixonada no segundo telefonema que trocaram (ou teria sido o terceiro?), e completou: “Ri na hora ao ouvir tamanho absurdo!. As pessoas são loucas, Alexandre. Como ela podia estar apaixonada por uma pessoa que nem conhecia? Perguntou-me dando nova expressividade a voz.

Na hora, concordei. Entretanto, 100 passos adiantes, nossos pés ainda marcavam as areias santistas, comecei a questionar a mim mesmo sobre o que havia ouvido... e conclui: o meu amigo está ERRADO! Assim mesmo, em letras graúdas para que não restem dúvidas.

Claro que não é loucura apaixonar-se por alguém sem conhecer tão amiúde. Eu já me apaixonei por pessoas no ônibus! Já sofri dor de “amor profundo” num percurso de 30 minutos...rs. rs (um dia conto sobre minhas paixões nos coletivos da vida). Tenho certeza que não há nada de incomum nisso.

É possível sim apaixonar-se e dar coração, dentes, ossos e o próprio sangue por uma voz, um olhar, um toque, uma história recém começada ou nem iniciada! Isto é tão humano... tão tudo que já se escreveu. Ainda que o toque, o olhar, a voz e aquela imagem sejam meras construções de significados tracejados de várias e várias experiências vividas... E daí?! Afinal, o que é o mundo que nos cerca senão a nossa própria projeção que dele fazemos?

A paixão é conhecida e sentida no primeiro e segundo telefonema... principalmente no dia seguinte... Claro! Quem precisa conhecer pra se apaixonar? Pelo contrário, quando conhecemos perdemos a paixão para o amor. Ok. Nem sempre isso ocorre. Quase sempre perdemos a paixão e simplesmente não fica nada no lugar... mas e daí?

Sofremos, choramos e isso tudo dura, muitas vezez, apenas um "percurso de 30 minutos"; ou até surgir uma nova vertigem nos arrastando pelo chão.... "mas sempre tem a cama pronta e rango no fogão", como bem já cantou Lulu Santos.

Meu amigo está errado!

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Beijos são os melhores confidentes

Quantos segredos escondem-se num beijo? Eu sinceramente não sei, porque não penso muito em segredos, embora adore descobrir um. O que sei é que beijos não guardam segredos, por isso são os melhores confidentes.

Antes que me questione, tenho certa legitimidade para falar de beijos. Já beijei e desbeijei muito. O meu primeiro beijo e desbeijo foi aos sete, de idade... era só lábio com lábio. Hoje, lembro assombrado do tamanho da emoção de algo tão ingênuo e puro, porque aos sete não imaginava que a língua não é só pra falar ou fazer careta.

O primeiro beijo de verdade (língua com língua) aconteceu entre 9 e 10 anos. Fui iniciado por uma prima, apenas um ano mais velha. Ali senti uma emoção diferente. Era comichão no rosto, no peito, entre a barriga e os pés. Virou quase que um vício, contudo difícil de ser sustentado quando se tem menos de 13 de idade.

Hoje, aos 40, descobri que o beijo também envelhece e é ótimo pra revelar o prazo de validade dos relacionamentos. Contudo, tenha certeza que o tempo transcorrido para um e o outro quase nunca coincidem, apesar de terem o mesmo determinante para a sua duração: a capacidade das bocas tocarem as almas de alguma forma.

Descobri também que há tipos diferentes de beijos tanto quanto há de relacionamentos. Há aqueles que começam bem, mas ficam chatos no meio do caminho. Há aqueles que começam ruim, mas vão esquentando, esquentando... Há os imediatos, tipo beijou, gamou! Ou beijo, vomitou! Quem nunca sentiu um beijo frio e gosmento? Posso escutar você dizer: “eca, parece até meleca!”

Há beijos que de tão cheios de carências e necessidades logo se transformam numa experiência inesquecivelmente desagradável, mas também há os generosos e cheios de dádivas e saudades reveladas.

Existem ainda os beijos ruins, os razoáveis e os bons. Quais elementos que determinam? Não sei. A experiência não me revelou. Já beijei sequinho e gostei. Já beijei babado e adorei. Acho que é o grau de empolgação para com a boca beijada e a capacidade das almas se abraçarem com a língua... Acho.

A minha experiência, contudo, não me deixa dúvidas: beijos são reveladores e revelam mais que o olhar. A gente que não sabe decifrar.

Sabe aquela música do Peninha “tudo era apenas uma brincadeira e foi crescendo, crescendo e me absorvendo”? Desconfio que a versão original era “tudo era apenas um beijo (...) de repente eu me vi assim completamente seu”... Eu costumo usar uma única expressão para definir melhor esse beijo: “fudeu!” ou “To fudido!” e suas demais variantes.


Curiosidades
Não se sabe bem quando surgiu o primeiro beijo da humanidade. Segundo minha pesquisa no Google, existem 176 referências sobre o assunto. Fiquei com preguiça de procurar muito. Encontrei este link em cache que fala não só dos registros históricos, mas também da quantidade de músculos, salivas, vírus e bactérias envolvidos no ato.
http://209.85.165.104/search?q=cache:0sHKHQ90ccsJ:www.odebate.com.br/noticias.asp%3FID%3D10821+%22Primeiro+beijo+da+humanidade%22&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1 Pode acessar. Não é vírus.

Segundo o link, aí de cima, os registros históricos disponíveis são de 2.500 anos lá na Persa. A pesquisa do Google revelou ainda que o beijo com as línguas entrelaçadas foi inventado pelos franceses, por isso também é conhecido como “beijo francês”. A expressão “beijo de língua” surgiu em 1920. Se bobear muitas das nossas bisavós não provaram a saliva dos nossos bisavôs. E falando nisso, 97% das mulheres fecham os olhos, quando beijam. Apenas 30% dos homens fazem o mesmo.

Quero homenagear os primeiros seres humanos que descobriram este delicioso ato. Mais vale um beijo ruim do que um beijo inexistente. Respeito opiniões contrárias... mas... beijo é beijo!

domingo, 24 de junho de 2007

Brilho aquoso


(*) A regra número um para a insônia
é respirar pausadamente
mantendo o coração ritmado.
A regra número dois
É tentar mesmo esquecer.

Bem que tentou seguir as regras do poema, mas não conseguiu. No dia seguinte, acreditou no engodo do almoço. Sentaram-se frente a frente. Observava-se um discretíssimo brilho aquoso no canto dos seus olhos.

Ali se esqueceu rapidamente da vigília anterior, das injúrias e perjuras. Embora triste a expressão, tentava falar alegremente até que:

“Não vês que são lágrimas e não insônias que trago em meu olhar!” – foi preciso dizer diante de insensível observação ouvida.

Assim, o diálogo e o almoço encerravam-se sem um prólogo, índice, prefácio ou conclusão!

Levantou-se tendo por companhia a saudade e as dúvidas, guias até ali.

Seguiu com a única certeza possível: seus olhos amanheceriam mais uma vez com discretíssimo brilho aquoso.

(*) Jacinto Fabio Corrêa. Pedaços. O Parasempre da Hora - poema 19

Juras da manhã


A noite costuma ser boa conselheira. No seu silêncio escuro, muitas vezes a autenticidade explode magnificamente sem que se possa fazer qualquer coisa pra evitá-la.

Assim, sentindo aflorar sua autenticidade em desejos frustrados, debruçou-se sobre o poema de K. Kaváfis:

Jura

Jura de quando em quando começar uma vida melhor.
Mas quando vem a noite com seus próprios conselhos,
Com seus compromissos e com suas promessas;
Mas quando vem a noite com sua própria força,
Para a mesma alegria fatal de seu corpo,
Que quer e que reclama, perdido, ele retorna.


Seus olhos moviam-se rápido enquanto o cérebro lentamente tentava absorver aqueles versos tão autobiográficos.

Ninguém descreveria com tanta propriedade o momento em que vivia, senão como o fez o poema de Kaváfis. E nem sabia por que obra ou mãos aquelas palavras eram tão suas e lhe descreviam tão perfeitamente.

Fechou o livro. Parou pra refletir. Cansou-se e adormeceu entre dúvidas e desejos. Acordou. A manhã promete uma nova jura, um novo poema.