sábado, 9 de junho de 2007

Não quero ser moderno. Quero ser eterno.


Veio de um amigo a inspiração para este post. Tentava convencê-lo a fazer um brog (licença, mas falo “brog” e não blog). Dizia-lhe que a brincadeira era prazerosa e, não deixava de ser um brinde aos amigos.
Narrava como tem sido curiosa a experiência de brogueiro. Falava da excitação que me assaltava para escrever, porque cada acontecimento, frase ouvida ou lida ficavam ecoando na minha cabeça como se fossem candidatos a novo “post”.

Contava ainda, sobre as observações que havia recebido dos amigos. Uma delas, um conselho valioso, “blog desatualizado é a pior coisa”. Outra dizia que “escrevemos porque somos narcisistas”. Uma, destaquei entre risos, acusava o título de ser sem originalidade...

Costumo achar que a opinião dos outros é válida. Quem não se afeta com elogios e, muito mais ainda, com críticas? Segundo um conceito da psicanálise lacaniana (não tenho certeza se é da psicanálise e muito menos lacaniana), quem qualifica o discurso é a audiência.

Prosseguia a conversa quando meu interlocutor, até então sem demonstrar muito interesse na prosa, parou ante a minha resposta a sua pergunta de qual era mesmo o nome do meu brog.

- Alexandre, disse-me - a fonte nunca seca.
- Não entendi, retruquei.
- Ora, o nome do seu blog não é “Aqui nasce a correnteza”?
- Sim, respondi.
- Então. O local onde nasce a correnteza não é a fonte? Entendeu?
- Entendeu... mais ou menos!

Esse meu amigo costuma dizer coisas que costumo demorar a entender. Aliás, outros amigos o apelidaram de “choque de realidade”. Não sei se pelo mesmo motivo.

O amigo prosseguiu: “Não se preocupe com o conceito de originalidade alheio. Essa preocupação é para os bobos”. E citando Carlos Drummond de Andrade. “Não quero ser moderno. Quero ser eterno”, finalizou a conversa.

E eu termino aqui este post. Desejando que o nome do meu brog, dado ao acaso, seja fonte de inspiração que nunca seque e que alimente correntezas caudalosas de bons textos e bons leitores. Talvez consiga assim, de alguma forma, me eternizar em cada um deles.

PS1. Não convenci o meu amigo “Choque de Realidade” a criar um brog.
PS2. A amiga Helena Lima livrou-me da dúvida sobre o conceito "escuta qualifica o discurso". Não tem nada a ver com Lacan e sim com a própria. Isso mesmo. O conceito foi desenvolvido por ela. Ter amiga brilhante é uma dádiva!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Extermínio dos nervos

Eu não vi o primeiro filme "Extermínio", mas posso garantir que a sua continuação "Extermínio 2" (28 weeks later) exaure os nossos nervos logo nos primeiros momentos de projeção. O jovem diretor desse thriller, o espanhol Juan Carlos Fresnadillo, não faz nenhuma concessão. É tensão do começo ao fim.
A história é mais ou menos assim, seis meses depois do final do primeiro filme, um grupo de pessoas está enclausurado numa casa de campo, tentando não ser infectado por pessoas que se transformaram em criaturas demoníacas, após terem sido infectadas por um vírus misterioso. Até que a personagem aí de cima, na janela, tenta salvar um garoto que bate a porta. Ao dar guarita ao menino, abre-se uma brecha e os seres endemoniados (infectados pelo tal do vírus), invadem a casa e.... aí não há mais trégua...

É curioso notar que a personagem (la ná janela) representa a figura materna no filme e é por meio dela que há a invasão do refúgio. Quase uma visão modernizada da Eva do Gênese. Só que num movimento inverso. Essa não é expulsa, mas macula o paraíso trazendo o inferno pra dentro dele.

A figura paterna também não sai ilesa. O filme confronta valores de lealdade, amor e desmistifica a figura do pai, do macho protetor. Não há heróis neste filme. Há atitudes heróicas, mas que logo se apagam ante a necessidade do "salve-se quem puder" diante de uma Londres ameaçadora, citiada, claustrofóbica e sem salvação.

O filme é uma produção inglesa. Traz Robert Carlyle num dos papéis principais, mas não o de mocinho. Aliás essa figura não existe na metáfora de mundo construído por Fresnadillo. O que fere os nossos sentidos viciados na visão do herói individual e redentor construído e incensado pelas produções americanas.
O diretor rouba-nos o suspiro que damos ao final desses filmes, onde geralmente apela-se ao ufanismo e ou as metáforas edificantes do bem vencendo o mal para voltarmos tranquilos as nossas casas. Não há isso. A tensão não termina, prossegue porque só terminaria com o exetermíno da humanidade. Uma visão superlativamente pessimista e apocalíptica do mundo atual, sem a esperança de um final feliz e redentor.
Quem assistiu a "Bruxa de Blair" talvez concorde comigo. Os roteiristas e o diretor citam, nas cenas mais tensas, aquele filme. A lente da câmara transforma o expectador em agente da ação, hora como um dos seres infectados, hora como vítima. O que só aumenta o suspense, a adrenalina, o batimento do coração e a angústia. Não é um bom filme pra se ver no final da noite. Mas não deve deixar de ser visto. Eu sofri, mas gostei.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Conversa pra bêbado


Veio da minha amiga Ana Cristina a seguinte notícia:

O Estado americano do Novo México acaba de encomendar 500 desodorizadores de mictório falantes! Eles são equipados com um sensor que detecta a presença de álcool na urina dos clientes de bares e restaurantes. Quando isso acontece, o sensor dispara uma gravação com voz feminina e diz, em inglês: “E aí, cara, andou tomando uns drinques? É hora de chamar um táxi ou pedir para um amigo sóbrio lhe levar pra casa”.

O inventor do dispositivo, Richard Deutsch, disse que não existe público mais compenetrado do que um homem na frente de um mictório. “O cara não olha para a direita, não olha para a esquerda. Ele se concentra no aparelho.”

Realmente a mistura de bebida e volante já se tornou um problema de saúde pública. Segundo a matéria, nós homens, somos mais propensos a fazer merda no volante depois de uns goles. Conosco o número de acidentes é o triplo do que ocorre com as moças alegrinhas.

Então fica o conselho: se beber, não dirija! Agora, fico me perguntando, contudo, se depois de bêbado alguém consegue ouvir algum conselho? Ainda mais vindo de um mictório? Será?

segunda-feira, 4 de junho de 2007

A breve eternidade de uma respiração

Cá estou eu tentando escrever o primeiro "post"(é assim mesmo que se fala?). Relutei muito em criar um blog, mas inspirado por vários amigos e amigas, acabei cedendo a tentação. Acredito que deve ser uma brincadeira prazerosa. Então, inicio a brincadeira.

Talvez ninguém tenha saco de vir aqui. Eu mesmo não tenho muita paciência com blogs. Dos que conheço, dois ou três valem a visita. Os demais, não deixam de ser interessantes, mas trazem textos muito longos, aliás como este aqui está ficando... Nesse sentido, o poeta Jacinto Fabio Correa (Jajá para os amigos), escreveu um poema que leio como um conselho:

Longos textos me cansam.
Escrever deve ter
mesmo
a breve eternidade de uma respiração.

Claro que nem todos textos longos são cansativos. Eu mesmo li um hoje, num blog de uma amiga, que lamentei quando cheguei ao final, mas esses são raros. Então, seguindo o conselho, deixo aqui o meu ponto final. Antes, preciso citar mais um verso do Jajá (Prometo que terão muitos outros aqui). Não que considere uma verdade, mas julguei inspirador para terminar o meu primeiro post.

Descobri que escrevo porque não sei morrer.