sábado, 13 de setembro de 2008

A Boca, não o beijo.

Os dois corpos se reconheceram mesmo sem nunca terem se tocado. A atração preencheu o ar e o desejo não satisfeito derramou-se em olhares e em novos desejos...

Restou às mãos fazer o curto caminho do desconhecido, cujo percurso, tão mal interpretado foi a desculpa necessária e conveniente para interromper a jornada.

“Acho melhor não prosseguirmos”, disse a voz. No corpo, talvez houvesse marcas de outros corpos... talvez... Eu não as vi. Seria esse o motivo? Não consegui descobrir. Às perguntas, vinha um carrossel em respostas. As voltas me deixam tonto...

Os dois corpos se reconheceram e quase se tocaram numa viagem que poderia ter sido longa e prazerosa. Acabou não sendo nem uma nem outra. Foi apenas promessa e esperanças de mais e mais desejos.

Sim, havia o desejo, mas não a atração. Havia o sonho, mas não a paixão. Havia a boca, mas não o beijo... Havia também o medo da rejeição, mesmo diante das explicações... De certo que haveria a rejeição. Talvez aquela mesma de um órgão transplantado...

E assim nas construções dos verbos auxiliares sem ação, deu-se o despertar. Os corpos se levantaram e caminharam cada qual pro seu abismo. Cada qual pro seu firmamento. Do que seria percurso entre dedos, pelos e salivas, restou apenas um leve aceno: “Até a próxima!”

Um comentário:

Anônimo disse...

Enquanto descubro-se que outras bocas e outras pessoas que você já conhece estão ao seu alcance - e que, ao contrário da pessoa, beijo e boca que você ainda não conheceu - a boca, não o beijo, tiveram lábios tocados, mãos interligadas, calor trocado. Mesmo sem paixão, restou o físico, olhos nos olhos, enquanto do outro lado são apenas palavras.

Saudade de pessoa, beijo e boca que você ainda não conheceu? Agora acredito sim que isso é possível. Porque agora sinto ciúme da pessoa, beijo e boca que ainda não conheci.