domingo, 24 de junho de 2007

Brilho aquoso


(*) A regra número um para a insônia
é respirar pausadamente
mantendo o coração ritmado.
A regra número dois
É tentar mesmo esquecer.

Bem que tentou seguir as regras do poema, mas não conseguiu. No dia seguinte, acreditou no engodo do almoço. Sentaram-se frente a frente. Observava-se um discretíssimo brilho aquoso no canto dos seus olhos.

Ali se esqueceu rapidamente da vigília anterior, das injúrias e perjuras. Embora triste a expressão, tentava falar alegremente até que:

“Não vês que são lágrimas e não insônias que trago em meu olhar!” – foi preciso dizer diante de insensível observação ouvida.

Assim, o diálogo e o almoço encerravam-se sem um prólogo, índice, prefácio ou conclusão!

Levantou-se tendo por companhia a saudade e as dúvidas, guias até ali.

Seguiu com a única certeza possível: seus olhos amanheceriam mais uma vez com discretíssimo brilho aquoso.

(*) Jacinto Fabio Corrêa. Pedaços. O Parasempre da Hora - poema 19

2 comentários:

Anônimo disse...

Oh, poeta.... nunca vou me cansar de elogiar seu dom de fazer das palavras, arte!

E que suas noites sejam bem dormidas, sem motivos pra te deixar c os olhos marejados.

E que seus dias sejam abençoados, pra que nada de te faça marejar os olhos de lágrimas...

E que o brilho aquoso só te acompanhe se for de felicidade, de gozo e satisfação!

jacinto correa disse...

Áli

Muito bom o blog. Os textos são teus? Não conhecia essa poesia toda em vc. Muito legais, mesmo. Dá vontade de ler mais e mais. E obrigado pel citação. Vou virar freguês.
Abs
Jacinto